Como eu previa, ficou uma novela. Se você agüentar ler tudo, tentei dividir em “capítulos”, ou assuntos que estive envolvida nesses dias – os dias mais importantes da minha vida, que Deus se manifestou em cada momento, de uma forma maravilhosa.
Relato do parto
Na noite de terça para quarta (12 para 13 de maio), dormi tranquila mas apreensiva. Sabia que o melhor para o bebê ainda seria esperar pelo menos mais uma semana, mas já tinha certeza que, diante de toda situação, o ideal seria o Davi nascer mesmo na quarta. Tudo preparado, malas arrumadas, e a esperança, do fundo do coração, que o ultrassom apresentasse o percentual máximo de erro e, no lugar do 2,350 kg de segunda-feira, o bebê estaria pesando mais de 2,500 kg. Essa foi a minha única preocupação. Estranho porque qualquer pessoa que fosse passar por uma cirurgia estaria um pouco preocupada com ela, mas nesse momento, a cesárea em si não tinha a menor importância.
O hospital escolhido para o Davi nascer, tanto pela obstetra, a Dra. Simone, quanto por mim mesma, após me certificar que a UTI neonatal era completa, foi a Clínica Santa Fé, aqui em Teresina.
Lá chegamos pontualmente às 7 da manhã: Juliano, eu, mãe e Cesar. As suítes que queríamos, a Brilhante ou Diamante, conhecidas pelo luxo e estrutura para comemorações (o tal mijo do bebê que já comentei), estavam ocupadas. Optamos, então, pela suíte Ametista, com decoração para meninos, muito bonitinha. Tem uma sala de visitas com frigobar e ar condicionado e depois o quarto, grande, com a cama e um sofá cama. E a escolha foi acertada, tenho certeza disso.
Da recepção, já passei pela salinha próxima para colocar o tal avental do bumbum de fora e fui de cadeira de rodas para o centro cirúrgico. O Cesar (meu irmão que me deu tanta segurança e conforto em todos os momentos) entrou também por outra porta para colocar sua roupa e o Juliano chegou até a abrir mão de assistir o parto para que eu tivesse meu irmão médico ao lado. Mas isso não me deixou tranqüila e esperei a Dra. Simone aparecer para que ela autorizasse a entrada do Ju também. Ela autorizou e antes que eu me esqueça, é bom dizer que, no que dependeu de minha obstetra, tive o parto mais humanizado possível. Não foi normal, como eu desejei, mas não questionei, qualquer hora que fosse, a opção pela cesárea: índice de líquido amniótico por volta de 3,0, pressão arterial instável, placenta madura, dupla circular de cordão, restrição de crescimento intra-uterino do meu filho – pra mim o suficiente para nem lembrar do tão sonhado parto normal. Graças a Deus confiei nas mãos da médica que se tornou outra irmã, sem qualquer vínculo sanguíneo ou relação além de consultório-paciente.
Voltando à entrada no centro cirúrgico, depois de ter, na sala de espera, tanto meu marido quanto meu irmão, bem como minha mãe bem na porta do lado de fora, fiquei aguardando por uma meia hora, muito anciosa – e nervosa. Eu sabia que era a próxima, quando alguém avisou que outra grávida entraria na minha frente por estar com dor. Tudo bem, a gente espera... e se diverte com o fato do Juliano colocar o pé da roupa cirúrgica na cabeça e a toca no pé...
Não lembro a hora que eu fui chamada para a sala de cirurgia, lembro só de me sentar na cama receber pedidos para relaxar, para que a anestesia fosse aplicada, comigo sentada. Lembro de pegarem o acesso no meu pulso e do mesmo ser bem mais dolorido que a própria anestesia em si.
Deitei. A anestesista me pediu para levantar a perna. Não consegui. Ela se virou para a Dra. Simone e disse: “ela não sente mais nada”. E senti como se uma caneta riscasse minha barriga: “sentiu alguma coisa?”, perguntou a anestesista. Respondi que havia apenas sentido que mexeram, mas nenhuma dor. Perguntei se já havia começado e ela respondeu que começaria em 5 minutos... mas não sou tão boba, eu estava sentindo mexerem dentro de mim! Nada de dor, mas eu sentia.
De repente, ouvi da Dra. Simone: “pronto, olha o seu bebezinho!”... e um choro tão forte, tão forte, que parece que não era do bebê e sim meu: eu nunca senti aquilo na minha vida... um desespero de alegria, uma segurança tão grande, inexplicável. Perguntei para o Juliano: “estão batendo nele ou ele chorou sozinho?” – mais tranqüilizante foi a resposta: “ele está chorando sozinho”...
Diferente do que eu pensava, não me preocupava em ver logo o meu filho, como a gente sempre viu nos filmes, ou como sempre imaginei que fosse. Eu ouviria só o choro por horas... não me passava pela cabeça “por que não trazem meu filho para eu ver?”... eu ouvia o choro e sabia que ele estava lá, saudável. Eu olhava para a cara do Juliano, que olhava embasbacado o bebê.
Pra completar, trouxeram meu filhinho. Lindo, na hora que chegou perto de mim, parou com o choro. Dentro de mim, eu não sentia simplesmente emoção! Fisiologicamente falando, eu não sei o que acontecia no meu coração, eu não sei o que acontecia comigo. Eu sei que eu nunca imaginava sentir algo tão forte. Pouco tempo ele ficou comigo e depois disso, nada do que me falavam eu processava direito. Não lembro de sair da sala de parto, lembro só de estar deitada no corredor onde fiquei esperando alguma coisa.
Infelizmente o ultrasson não foi preciso quanto ao peso do Davi... mas não por ter medido menos e sim mais. No lugar dos 2,235kg, era 2,090 kg.
Alguém veio e me disse que o bebê iria para o quarto comigo. Outra hora alguém me disse que ele iria para a UTI em razão de um desconforto respiratório, que ele estava cansadinho e gemendo. Desconforto respiratório com aquele choro? Não era possível, mas não questionei, afinal, eu sabia que meu bebê estava bem. E quando ele sairia da UTI? Alguém, no corredor, me disse que no mesmo dia. Outra pessoa me disse: “amanhã”. Mais tarde, no quarto, a pediatra que o recebeu, sem meias palavras, não hesitou: “ah, vai demorar ainda... amanhã? Sem chances...”
No mesmo dia que ele nasceu, eu não consegui levantar da cama. O Cesar e o Juliano foram para a UTI e não m esconderam que o bebê estava em uma situação que poderia me assustar: com acesso naquele bracinho tão pequeno, com oxigênio no narizinho e sonda na boca. Mas uma coisa eu já tinha digerido: o bebê poderia ficar lá o tempo que fosse, desde que fosse para o seu bem. A minha recuperação ia bem.
Quinta-feira cedo, começou uma dor de cabeça estranha na hora que levantei para ir ao banheiro. À tarde, a dor tinha aumentado, mas fui para a UTI de cadeira de rodas, mesmo com dor, e vi meu pequeno dentro daquele berço aquecido, sem o oxigênio no nariz mas com a cuba na cabeça, tipo de um balão, além da sonda de alimento e do bracinho todo furado. Quinta à noite, novamente no horário de visita, fui lá ver meu bebezinho e pude pegar na sua mãozinha, além de conversar com ele. A dor na cabeça, mais forte...
Para a minha surpresa, o neonatologista de plantão na UTI mandou a enfermeira colocar o Davi no meu peito. Tudo era novo, nem eu esperava que seria assim, e pouco ele sugou – eu também ainda não tinha leite suficiente.
Principalmente na noite de quinta, a dor na cabeça estava insuportável, mas por incrível que pareça, quando eu entrava na UTI, mesmo com todos aqueles barulhos de aparelhos disparando (tinha mais ou menos outras 5 crianças internadas por lá), eu não lembrava da dor. Na hora que eu saía, tudo voltava, eu não parecia um ser humano e sim um bicho. Assim eu me sentia. E incompetente por não poder cuidar de meu bebê como eu queria. Era só chegar no quarto para ter crise de choro, nervosismo, desespero.
Sexta não foi diferente. Enquanto eu estava deitada, eu conseguia falar, eu conseguia pensar. Nos horários da visita ao bebê eu estava lá, mesmo com dor, esperando para ver meu pequeno. Ficava ao ladinho dele enquanto eu conseguia. E a dor, cada hora pior – eu chegava a ter alucinações. No quarto, eu ficava o tempo todo deitada, porque era só levantar para a dor voltar, cada vez mais intensa. Mas que dor é essa, Ana? É a dor da “cefaléia pós raquianestesia” - passa quando estamos deitados.
Aliás, na sexta cedo, quando fui ver o Davi e, mesmo medicada pela anestesista, passei muito mal, achei que eu ia desmaiar com meu filho no colo – deu tempo de chamar a enfermeira e puxar um balde de lixo para eu vomitar. Fiquei muito feliz em não ver mais meu bebê naquela caminha fechada, ele estava no berço aquecido, ainda com a sonda de alimentação mas sem oxigênio, na sala de médio risco. Pena não ter curtido mais esse momento que meu bebê estava vencendo mais uma fase! Saí de lá suando frio e muito mal – me sentindo um bicho de novo.
Cheguei no quarto, com o Juliano empurrando a cadeira de rodas, deitei e, mesmo daquele jeito, ninguém iria me impedir de ir de novo para a UTI às 3 da tarde. A pediatra e anestesista passaram no quarto e disseram que à tarde eu não poderia ir por causa do estado que eu estava. Mas esperei ansiosamente o horário chegar, e fui. Fiquei pouco tempo, mas não perdi a chance de estar perto do meu pequeno. À noite, voltei e amamentei “do jeito que deu”.
No sábado, acordei cedo como de costume no hospital, tomei banho com a ajuda da minha mãe – só eu sei o quanto essa mulher é forte e me passou segurança durante todo o tempo. Eu não tenho como explicar o amor que tenho pela minha mãe e o que ela demonstra por mim. Voltando ao sábado, tomei banho, e estava engasgada com o meu “fracasso” quanto àquela dor alucinante. A Dra. Simone chegou para me examinar, nem mexeu no meu curativo pois disse que estava tudo bem – e realmente, eu nem me lembrava mais de cesárea – e ficou assustada com o meu desespero. Disse que iria me manter internada, mas que o plano de saúde poderia não autorizar a permanência. Eu disse que quanto a isso não haveria problema, se fosse o caso, a gente pagaria a diária da internação. Sábado à tarde, depois de mais algumas doses de corticóide e morfina, além da medicação da anestesista, a dor começou a melhorar. Aqui eu já nem ligava para o horário de visita na UTI, afinal, a mãe que amamenta tem livre acesso, a qualquer hora – e ainda que fosse pouco, eu amamentava! Fui de manhã, fui à tarde, fui à noite e, quando foi por perto de 23 horas, senti leite pingar do meu peito e liguei correndo para a UTI pedindo para ir amamentar... o máximo que eu levaria era um “não” e resolvi arriscar... deu certo, lá fui eu! Mamando ou não mamando, o importante era estar perto dele. Voltei para o quarto mais de uma da manhã (e a minha mãe me esperando do lado de fora da UTI desde a hora que eu entrei – a UTI é bem longe da suíte). Antes que eu me esqueça, tenho uma dica: quando você for para a maternidade, leve camisola de alcinha, é bem mais fácil para amamentar, especialmente se você for mãe de primeira viagem. E leve umas 4, no mínimo!
Domingo cedo lá estava a Dra. Simone, trocando meu curativo e eu nem senti nada. Ela disse que me daria alta, mas que verificaria a respeito da alta do Davi – para ela, foi incompreensível a permanência do bebê na UTI tanto tempo – “excesso de precaução”, foi o que ela disse.
Saiu, ligou para os médicos da UTI neo natal e voltou com a notícia que os dois sairiam no domingo mesmo. Meu Deus, que felicidade! Fui amamentar e nem perguntei nada, com medo de que alguém me jogasse um balde de água fria! Lá pela 1 da tarde, quando eu me preparava para ir para a UTI de novo, alguém especial entrou na suíte e, pelos olhos da minha mãe, eu vi que era meu filho, de surpresa, que chegava! Junto com ele, veio o certificado de vitória... não consegui parar de chorar (o choro fazia triplicar a dor porque aumentava a pressão na cabeça)!
Quando estava entrando em casa, a única frase que consegui dizer foi: “não tenho como expressar o tamanho da minha gratidão a Deus”. E cada dia eu tenho mais certeza disso!
Aliás, penso nisso e choro!
Quanto à cesárea
Por outro lado, quanto à cesárea, realmente, tudo o que diziam é verdade: parece um atropelamento de caminhão. Na quarta eu não senti muitas dores porque ainda estava com a sonda e fiquei deitada. Na quinta, logo cedo, fui no banheiro e... que dor! Lembrei tudo o que eu li sobre a recuperação dolorida da cirurgia, que tanta gente falava.
Mas acho que a dor de cabeça tão forte fez eu minimizar qualquer dor da cirurgia. Sem tirar o mérito, é claro, da Dra. Simone, que não só conquistou o respeito da paciente, mas de toda a minha família... minha mãe virou fã dela! Eu já poderia tirar o curativo na sexta agora, mas resolvi deixar para terça, dia que levarei o Davi no pediatra de novo – que tem consultório do lado do dela.
Não senti os famosos gases, mas também não confiei na dieta das nutricionistas do hospital. Onde já se viu mandar suco natural de maracujá para alguém que quer evitar gases? Maracujá, pelo que eu sei, é ácido e cairia como uma bomba em um estômago que não estava muito adaptado à comida – tinha o jejum para a cirurgia e mais o tempo depois que você não pode comer nada. Aliás, diminuí e muito a comida porque deitada era fácil engasgar e se eu tossisse, como tentei uma vez, parecia que tudo estava se rompendo, estourando mesmo. Escorria lágrimas dos meus olhos se eu meio que engasgava, mas eu não tossia.
Quanto a conversar, conversei sim, não o tanto que eu queria, mas falei com as pessoas que me visitavam.
A dica que eu dou para gases, portanto, e não confiar na dieta do hospital. Se eu tinha sede, preferia água mesmo. Pra vocês terem uma idéia, dois dias depois, quando eu saí da dieta líquida, veio salada de repolho de almoço. Fala sério, repolho evita gases desde quando?
Quanto aos amigos
Muita gente foi me visitar no hospital, mesmo sabendo (ou pelo menos desconfiando) que não veriam o Davi. A Dra. Simone comentou que ficou impressionada, porque muita gente perguntava sobre mim e o Davi por onde ela ia – e ela sabe que eu não sou do Piauí.
A Alessandra, a Karla, a Anjinha, por exemplo, foram amigas que me ajudaram até a tomar banho! É muito bom se sentir querida a hora que seja, especialmente nesses dias...
O apoio espiritual
Na segunda-feira, quando eu liguei aos prantos para a minha mãe, ela entrou em contato com o pastor da igreja que eu cresci em Jundiaí, a Igreja Batista do Redentor, e pediu orações. Na terça, reuniram-se para isso! Oraram pela minha vida e do Davi. Na quarta, oraram de novo, eu soube.
A Silviane (do blog As Cores no Sul), pernambucana que vive no Rio Grande do Sul, por quem tenho uma grande amizade virtual desde antes de eu vir pro Piauí (e dela ir pro Sul), amizade, aliás, que começou enquanto ela se preparava para casar, também pediu orações em seu blog e recebi apoio de muitas amigas suas por aqui. Nem sei como agradecer, amiga!
Fora essas orações lá de Jundiaí, de Porto Alegre e outros lugares das amigas da Silviane, tive orações de toda parte do mundo. É verdade! Principalmente durante o meu repouso, eu não saía do Orkut, de uma comunidade chamada “Gravidez: caminho de um sonho”, com mais de 30 mil membros. Lá fiz várias amigas grávidas, ex-grávidas e tentantes, e nosso assunto preferido, principalmente durante as tardes, era comida. Fora a comida, tinha os clipes da Stefhany. Na parte séria, aprendi demais com as informações da comunidade, a dona (que também se chama Ana) é expert no assunto, e as pessoas que comigo convivem ficavam impressionadas com tudo o que eu já estava sabendo sobre gravidez! Tanta coisa! Eu lia depoimentos de um monte de grávidas na mesma situação que eu, com os mesmos problemas, mesmas aflições, enfim, um universo único e tão parecido.
Quando eu soube que o parto seria antecipado, informei a Ana (dona da comunidade), mais algumas grávidas próximas e a notícia se espalhou. Abriram um tópico de orações para a “Ana do Davi”, onde cada um colocava sua oração ou continuava a oração de quem tinha colocado anteriormente. Também tinha outro tópico onde as pessoas deixavam recados pra mim, na minha “casinha”. Algumas me deram o celular e foi por onde eu avisei do nascimento do Davi e por onde eu pedi que continuassem em oração. Elas continuaram. Todas oravam com o mesmo coração: todas que são grávidas, me entendiam, ou todas queriam ser grávidas, também sentiam minha preocupação ou todas são mães, e oração de uma mãe... bom, nem preciso explicar o que a oração de uma mãe significa, né?
Para se ter uma idéia de como Deus ouve a oração de um coração sincero, como essas orações tocaram o coração de Deus, no sábado, com dificuldade, pedi para a Ana e na própria comunidade que continuassem em oração pela indecisão da alta do Davi e pelas minhas dores. Elas continuaram. Domingo cedo, sem qualquer previsão de alguma resposta boa, como eu já disse, veio a surpresa da nossa alta! Eu consegui deixar um recado para a dona avisar a todas o poder da oração delas.
Glória a Deus por ter colocado no meu caminho pessoas que intercederam pela gente!
Dra. Simone
Por indicação da minha amiga Lorena, logo que eu cheguei aqui no Piauí procurei uma ginecologista e fui ao seu consultório. Ela é uma mulher linda, magrinha, elegantérrima, chique mesmo, sabe? Sempre muito séria e te fala com uma segurança assustadora. Também não fala “meias palavras” quando tem que dar a bronca ou passar o recado. Antes de engravidar, ela me dizia: “está esperando o que mesmo?”.. eu ria, meio sem graça. Ela dizia: “o tempo está passando, viu”... Ela me passou o Cerazetti como anticoncepcional, que além de fraco, me fez parar de menstruar e eu sempre achei isso o máximo, mas não nego que ficava receosa. Ela fazia questão de me tranqüilizar: “se você se dá bem com esse remédio, não pare, ele é ótimo!”. Ela me convenceu que meus óvulos permaneciam novos, porque eu não ovulava e eu sempre confiei nisso. Em abril do ano passado fui até o seu consultório e disse que estava pensando em engravidar até 2009. Ela passou a vacina de rubéola e alguns exames. A vacina eu tomei, mas nem todos os exames eu fiz, nem nego... fiz os de sangue e estavam todos normais. Eu perguntei: “Dra., faz 8 anos que tomo anticoncepcional, se eu quiser engravidar em janeiro do ano que vem, por exemplo, quando eu devo parar?”. Ela me respondia: em janeiro do ano que vem. Eu tentava argumentar: “mas...” Ela já tratava de responder: “Depois que você parar o remédio, só Deus é que sabe quando você engravida. Pode ser neste mês ou pode levar um ano, mas parou o remédio você já pode engravidar.”
Algumas vezes ela tinha me dito que me achava disciplinada demais por não ter engravidado com mais de 7 anos de casada. “Disciplinada eu? Mal sabe ela quantas vezes tomei o remédio bem depois do horário!”, eu pensava. Isso pra mim significava que talvez eu não teria tanta facilidade em engravidar quanto ela dizia. Assim, como eu havia tomado a vacina da rubéola no fim de abril, eu precisava esperar 3 meses para parar o anticoncepcional – seria no fim de julho. Eu achava que levaria, pelo menos, uns três meses para que desse certo uma gravidez, tomei a cartela do remédio até o fim, que foi no fim de agosto. Dia 30/08, fiquei menstruada. Primeira e última vez depois do remédio! “Ela tinha razão”, foi o que eu pensei quando soube do resultado. Na primeira consulta do pré-natal, comentei da rapidez e de que ela havia acertado, mas não deixei de falar sobre a disciplina: “Dra., quando a sra. disse que eu era disciplinada, eu tive certeza que não seria tão fácil engravidar, porque algumas vezes eu não tomei o remédio na hora certa...”. Ela respondeu: “eu disse que você era disciplinada porque com todo esse tempo de casada nunca havia cedido à pressão por engravidar...”
E durante toda a gravidez lá estava eu, mês em mês fazendo tantos ultrassons e tantas medidas. Ela sempre me passando segurança, inclusive no episódio do refrigerante... eu morria de vontade de tomar, mas todo mundo contra. Ela me disse: “tome refrigerante porque vai ser muito pior você passar essa vontade do que tomar logo”. Quando apareceu o US falando da incisura bilateral, ela explicou o que era (umas 5 vezes pra eu entender), e mais uma vez nos tranqüilizou. Nunca reclamou do meu peso, apesar de ficar assustada no aumento do sétimo para o oitavo mês. Quando eu tive a dor do estômago com contrações, a Dra. Araci (médica que sempre fazia meus US) ligou imediatamente para ela que mandou eu ir para a Clínica (onde o Davi nasceu). Ela estava em uma cirurgia, em outro hospital, como eu já falei, e assim que deu foi me ver e, mais uma vez, me tranqüilizou ao extremo só cobrando repouso. Passou os remédios corretos e já me disse que era para ficar tranqüila mas não contar que minha gravidez passasse de 37 semanas. Disse o que poderia ter acontecido com o líquido amniótico, e comecei minha peregrinação em ultrassons semanais. No ultrasson triste do dia 11/05, mais uma vez a Dra. Araci ligou pra ela e quando falou que o líquido estava em 3, deu para ouvir: “QUANTO?”. Mas é claro que, chegando no consultório dela, a calma em pessoa estava lá dizendo que estava tudo sob controle mas que o parto seria na quarta. Explicou tudo como seria.
O que eu sei é que hoje eu tenho vontade de dar um abraço tão grande nela a ponto de quebrar seus ossos... hehe. Ela foi demais, foi humana, controlada, me deu um conforto durante toda a gravidez que dificilmente encontramos em médicos que ficam insensíveis com tudo o que trabalham no dia-a-dia. E não sei se eu já falei, mas ela é extremamente inteligente, eu sei que ela sempre foi a primeira da turma dela na faculdade.
Mais uma prova que Deus me ama foi colocar a Dra. Simone na minha vida aqui no Piauí.
A anestesista
Acho que todos souberam que, mesmo depois que cheguei em casa, a dor de cabeça não sarou. No domingo, havia melhorado, mas na segunda aumentou. Como o Cesar estava aqui em casa, me deu outra injeção de corticóide e me passou Tylenol. Passava na hora, mas logo depois, voltava.
Quinta-feira (21/05), ou seja, 8 dias após o parto, eu já estava no limite, não agüentava mais, definitivamente.
Agora vamos falar da anestesista.
Eu não quero colocar o nome dela para não tomar processo nas costas, mas pense no oposto da Dra. Simone? Para ela, foi tudo muito simples, muito fácil. Quando eu senti as dores de cabeça não controladas pelos remédios que a Dra. Simone tinha passado, ela foi chamada, olhou para a minha cara, não passou mais de 2 minutos no meu quarto e foi embora. Nunca mais voltou saber como eu estava. Mandou me dar 3 soros correndo rápido, mais corticóide, anestésico, e “tomar suco”. Nessa altura, eu já sabia da possibilidade de um tampão, que fazem com o meu próprio sangue e injetam no mesmo buraquinho da anestesia – acho que tampa o vazamento do líquido que dava a dor de cabeça. Quem fez falava que é o mesmo que tirar com a mão a dor. Uma professora que trabalha com o Juliano disse que sentiu a dor, entrou no centro cirúrgico de maca, fez o tampão e saiu de mão dada com o anestesista que era amigo dela. Outra pessoa contou a mesma experiência lá na comunidade de gravidez na “minha casinha”. E eu com a dor já há 8 dias, liguei para a Clínica, por sugestão da Dra. Simone que encontrei quando levei o Davi no pediatra, e consegui falar com a anestesista. Eu pedi: “Dra., pelo amor de Deus, eu não agüento mais, tô tendo alucinações de dor, não consigo cuidar do meu filho, me ajuda!”. Ela respondeu: “vou te passar mais um remédio, espera que daqui a pouco eu te ligo porque estão me chamando lá fora...”. Na hora eu falei: “Dra, não existe remédio que cure, por favor, me faça o tampão!”. Pra quê? Ela ficou enfezada, me perguntou quem havia me falado da possibilidade do tampão (como se fosse algo proibido de eu saber), eu respondi que conhecia uma pessoa que tinha passado por isso e ela disse que este procedimento só é feito em último caso. Eu falei, chorando: “Dra, qual é o último caso? Estou com dor há 8 dias, quase batendo a cabeça na parede, vomitando de dor, tendo alucinação...” Ela não respondeu, quis desligar o telefone e disse que ligaria passando um remedinho. Uma hora depois ela ligou e disse “você não deveria ter tido alta da sua médica se estava com dor”. Eu expliquei que, no domingo, a dor havia melhorado, parecia que ia sarar, mas na segunda ela voltou com muita força. Ela disse: “pois eu vou te passar um remédio para dor de cabeça e um calmante para você dormir, já que está tendo dificuldade”. Eu falei que não tinha dificuldade para dormir, não, que o problema sempre foi ficar em pé e não deitada. Perguntei se era remédio controlado e ela disse que sim, era receita azul e que eu pedisse para alguém passar na clínica pegar a receita. Perguntei o nome do remédio para a dor de cabeça (o que não era controlado) e me liguei que era o mesmo que a Dra. Simone tinha sugerido na noite anterior. Resolvi, então, por minha conta, comprar só esse de dor de cabeça e nada de remédio controlado. Eu estou amamentando! Não vou tomar tarja preta! O Juliano pegou a receita e quando chegou na farmácia me ligou perguntando se eu ia tomar o controlado ou não. Respondi que não. E estou no terceiro e último dia do remédio pra dor sem dificuldade para dormir.
Sabe, eu penso que o médico deve se preocupar em tirar a dor do seu paciente. Era só isso que eu pedia dela. Tudo o que ela me pediu, no dia da cirurgia, eu fiz. Relaxei, não me mexi, e nem critiquei a mentira que contou a respeito da cirurgia começar 5 minutos depois quando, na verdade, o Davi já estava nascendo. Por que seria tão difícil ela tentar minimizar minha dor de alguma forma que não fosse através dos mesmos remédios que eu já havia tomado e não tinha funcionado? Até morfina eu tomei, ela sabia disso! Por causa dessa dor, sei que saí do hospital muito mais inchada do que quando entrei. Não sou médica, não sei os riscos do procedimento, mas sei que sofri demais com a dor. Penso que eu merecia o tampão. Mas talvez fosse trabalhoso demais, bem mais fácil mandar aplicar um sorinho na veia... veia, aliás, que eu não tinha mais. Todas já haviam estourado: 4 picadas na mão esquerda, duas no braço esquerdo. Mesma coisa do lado direito. Se a última que haviam conseguido (no meio do braço direito) estourasse, acho que iam pegar no meu pé! E quando a enfermeira foi tirar o soro para eu ir embora, adivinha? Tinha estourado, meu braço estava inchado, parecia o braço do Popeye. Mas graças a Deus não precisou mais nenhum acesso. Hoje (23/05) eu sinto uma pequena dor, mas suportável e espero em Deus que a cefaléia não volte. Resultado do remédio dela? Não, resultado do remédio da Dra. Simone, porque eu só tomei porque confiava na minha obstetra.
Uma dica que dou a quem for passar por isso: primeiro, peça outro tipo de anestesia que não a raqui. Minhas amigas que viram meu estado já se convenceram disso. Se não tiver jeito, pergunte, antes da aplicação da anestesia, se o médico fará um tampão caso apareça dor. E pegue referencias sobre o anestesista... eu nunca me preocupei com isso, sabia que tinha um de plantão lá e seria ele mesmo. Vocês devem ter percebido que levei um tratamento cinco estrelas, né?
O Davi em casa
Amanhã faz uma semana que ele chegou. Está lindo de morrer! Terça-feira foi o primeiro passeio dele, até o pediatra que a Dra. Simone indicou, ele é bastante conhecido por tratar de recém nascidos. O nosso pequeno foi examinado, pesado, medido. No domingo, tinha saído do hospital com 1,930 kg e no consultório já pesou 1,980 kg. O médico disse que tomaria esse peso como ponto de partida porque as balanças poderiam ser diferentes! Em todos os exames que fez com o pequeno (até colocar para andar ele colocou), ele chegou à conclusão de que é uma criança muito esperta e saudável, só precisa mesmo ganhar peso. O Davi não pode ficar mais de três horas sem mamar – essa parte é difícil, porque quando ele mama demais, tem um pouco mais de sono e é muito chato acordá-lo.
A orientação que ele me deu que está sendo bastante difícil é a de não permitir visitas – de jeito nenhum. Primeiro porque ele é muito pequeno e segundo porque ele não tem nenhuma vacina e terá que esperar mais um pouquinho para tomá-las. Eu fico constrangida, não sei o que fazer, como vou sair falando para as pessoas que querem demonstrar carinho que não verão o pequeno? Graças a Deus, os poucos que eu falei compreenderam, espero, de coração, que não fiquem chateados.
Estou fazendo uma lista das pessoas que me ligam e querem vir para poder avisar no dia que o médico liberar. Alguns eu consigo atender, outros não, porque estou amamentando ou fazendo o Davi dormir, ou deitada para evitar a volta da dor de cabeça... Vou ligar um por um, pedir desculpa mais uma vez e dizer que ficaria muito feliz com a visita. As lembrancinhas que fiz com tanto carinho já coloquei tudo dentro de sacos e estão guardadinhas. Espero distribuir todas!
As consultas no pediatra são semanais, e recebi muitas recomendações. Entre elas, o médico disse que minha função deveria se limitar a amamentar e dar o bebê para alguém segurar até para arrotar e deitar imediatamente, porque o meu leite tem um valor inestimável para o Davi. Também mandou eu tomar 5 litros de líquido por dia. É claro que não me limito a amamentar, eu gosto de trocar o bebê, gosto de segurar para arrotar, gosto de ficar só olhando a carinha dele. De dia, não tenho dormido não, e à noite... bom, digamos que à noite eu não durmo o tanto que eu dormia, mas vale a pena acordar de 2 em 2 horas se ele não mamar demais e de 3 em 3 se mamar bem. Minha mãe ainda está aqui (meu irmão e pai foram embora na quarta) e ela tem feito muito por mim e pelo bebê... nunca vou conseguir retribuir... ela cuida dos dois com todas as forças dela, com todo o amor que hoje eu consigo compreender o tamanho. Minha mãe é uma mulher forte demais! Tudo o que eu quero é ser como ela (tô chorando...). Não admito que alguém duvide do amor que muita gente tem por ela, especialmente seus filhos. Eu sei que tenho procuração para falar pelos meus irmãos e pela minha sobrinha, além do próprio Davi que várias vezes só para de chorar no colo dela.
Bom gente, sei que escrevi demais, mas não tinha como ser mais resumido. Tomara que alguém tenha paciência para ler tudo!
Beijos a todos!